A
escola e o trabalho dos alunos
Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, 12 de Fevereiro
de 2009 (XVII Colóquio Afirse — Secção Portuguesa, “A escola e o mundo do
trabalho”)
Bernard
Charlot
Quando os
meus fi lhos franceses voltavam da escola, na década de 80, eu perguntava:
“trabalhou bem na escola?”. Hoje, quando os meus fi lhos brasileiros chegam em
casa, a minha pergunta é outra: “estudou bem na escola?”. Essa mudança está
ligada às minhas pesquisas e reflexões sobre a escola, mas remete também para
as diferenças entre a língua francesa e a portuguesa. Em francês, diz-se que os
alunos trabalham na escola. Em português, pelo menos no Brasil, não se diz que
trabalham, mas que estudam na escola. Da mesma forma, em português, diz -se que
o professor ensina e que o aluno aprende. Em francês, pode-se dizer que o
professor ensina ou que ele aprende; ou seja, o professor aprende (ensina)1
coisas a alunos que têm que aprender essas coisas. Uma terceira diferença
parece-me interessante. Em português, o aluno acompanha o professor, ou a aula.
Em francês, o aluno segue o professor, ou a aula. São dois modelos implícitos
completamente diferentes. O modelo francês nomeia trabalho o que o aluno faz na
escola, mas, de fato, destaca a atividade do professor: este “ensina” coisas ao
aluno, que o deve “seguir”. O modelo implícito português, ou, pelo menos, o
modelo brasileiro, não designa a atividade do aluno como trabalho, mas ressalta
a sua especificidade: o professor ensina, o aluno aprende; são duas atividades
que não podem ser confundidas.
Essas
diferenças me levam a duas questões. A questão central é a da atividade do
aluno: qual é a natureza e a especificidade da atividade do aluno na escola? A
segunda questão é menos importante, mas tem relevância também: será que essa
atividade do aluno merece o nome de trabalho?
A QUESTÃO DA ATIVIDADE DO ALUNO: UM DEBATE
TEÓRICO E EPISTEMOLÓGICO
O que está
em jogo no debate sobre a atividade do aluno é decidir se esta é apenas um
reflexo da posição social ou se se trata de uma atividade específica, que
produz efeitos, mudanças, e deve ser considerada uma dimensão fundamental do
que está acontecendo na escola. Esse debate abrange a questão das diferenças
entre alunos oriundos de várias classes sociais, mas contempla também a
questão do gênero.
a questão da
atividade na sociologia das posições e disposições Nas décadas de 60, 70 e até
80 do século XX, a forma como se pensou a escola foi muito influenciada pela
Sociologia da Reprodução, em particular a de Bourdieu, isto é, por uma
Sociologia das posições e disposições. Ainda hoje permanecem prementes as
explicações das dificuldades escolares dos alunos pela referência à família e
ao meio social das crianças e, portanto, vale a pena refletir no lugar que essa
sociologia atribui à atividade dos alunos.
Nesse
modelo, o que importa é a posição social do aluno, definida com base na do seu
pai, e não a sua atividade. Analisam -se a posição do aluno entrando na escola
(in) e a sua posição saindo dela (out), comparam -se am-bas e conclui -se que a
escola contribui para a reprodução social. Nessa perspectiva, o que acontece
dentro da escola não produz nada de novo. Tal abordagem, claro está, leva a
desprezar ou menosprezar a atividade do aluno; não é necessário analisá -la
detalhadamente.
No entanto,
devem distinguir -se as sociologias da reprodução desenvolvidas por Baudelot e
Establet e por Bowles e Gintis, em que a atividade quase não aparece, e a
sociologia de Bourdieu, mais interessante (Baudelot & Establet, 1971;
Bowles & Gintis, 1976; Bourdieu, 1998; Bourdieu & Passeron, 1992).
Bourdieu levanta a questão do que o aluno faz na escola. Não analisa, porém, a
própria atividade, mas, sim, os seus recursos, ou seja, as disposições que a
sustentam, disposições essas que dependem da posição social do aluno. São essas
disposições que importam e não o próprio desenrolar da atividade. Elas
aparecem na teoria como capital cultural e habitus.
No sistema
conceitual de Bourdieu, a sociedade é constituída por um conjunto de campos.
Nestes, há lutas: cada um tenta preservar e, se possível for, melhorar a sua
posição. Para tanto, usa os recursos ao seu alcance, recursos esses que
procedem da sua posição social. Em cada campo, as lutas para o poder dependem,
antes de tudo, dos recursos de que dispõe cada um: do seu capital. No campo
cultural (escola, imprensa, artes…) prevalece o capital cultural, conjunto de
conhecimentos e relações com a cultura e a linguagem. Quem tiver mais capital
cultural pode desenvolver nesse campo estratégias mais eficazes para melhorar
a sua posição; no campo cultural, são estratégias de distinção (Bourdieu,
2007). Portanto, na teoria de Bourdieu, existe um espaço para as lutas, mas o
desenrolar e o desfecho destas dependem dos recursos que as sustentam, isto é,
afinal de contas, da posição social de quem age: o princípio de
inteligibilidade da atividade não é a própria atividade, mas a estrutura
social dos capitais investidos na atividade. Por isso, Bourdieu não fala de
atores, mas de agentes sociais.
O conceito
de habitus esclarece a diferença entre ator e agente. O habitus é um conjunto
de disposições psíquicas, duráveis e transponíveis, que foram estruturadas
socialmente e funcionam como princípios de estruturação das práticas e das
representações (Bourdieu, 1989). Para compreender uma atividade, é preciso
compreender por que o indivíduo age, e age de tal modo. Portanto, torna -se
necessário saber quais são as suas ideias, expectativas, gostos, etc., isto é,
quais as suas disposições psíquicas. Isso significa que, para entender uma
atividade ou uma prática, há de analisar o habitus, o sistema de disposições
psíquicas que a baseiam. E para conhecer o habitus, é preciso analisar as
condições sociais em que ele foi construído. Assim, afinal, o que permite dar
conta da prática são as condições sociais que construíram o habitus. Portanto,
em última instância, a posição social é o princípio de inteligibilidade da
atividade. As posições sociais são reproduzidas de uma geração para a seguinte,
pelo menos em termos de probabilidades: as condições em que se forma a criança
moldam socialmente o seu psiquismo e este a leva a representações e práticas
que reproduzem a estrutura social de origem. Quem age é agente das estruturas
sociais, uma vez que elas se reproduzem por mediação do seu habitus; não é um
ator que, por sua atuação, iria contrariar a ordem social das coisas.
De acordo
com esse modelo sociológico, o que acontece na escola depende fundamentalmente
do capital cultural e do habitus dos alunos. Quem tem as disposições
psíquicas e o capital cultural requeridos pela escola se torna um aluno
bem-sucedido; quem não os tem fracassa. Os conceitos de atividade ou de
trabalho escolar não cumprem nenhuma função importante no sistema explicativo.
Entretanto,
a questão da atividade não está total mente ausente do sistema de Bourdieu,
como já mencionado. Mas ela é senso prático, como diz Bourdieu: raramente o
habitus funciona em situações sociais exatamente similares às que o
estruturaram e, portanto, faz -se necessária uma adaptação permanente,
realizada pelo senso prático. Na maioria das vezes, essa adaptação não traz
problemas, uma vez que existem muitas semelhanças entre as condições em que o
habitus foi construído e as em que, mais tarde, tem de funcionar. Contudo, o
último Bourdieu torna -se sensível às defasagens, cada vez mais frequentes na
sociedade contemporânea engajada em mudanças rápidas, entre as disposições
psíquicas fundamentais dos indivíduos (os seus habitus) e as situações sociais
em que eles vivem hoje. Essas defasagens, porém, não levam Bourdieu a
interessar -se pela atividade atual dos indivíduos, pela transformação dos
habitus, pela construção de novos recursos culturais. Levam -no a destacar o
sofrimento produzido por esses descompassos, a “miséria do mundo” (Bourdieu,
2003).
Será que
estamos condenados a uma eterna reprodução? Bourdieu deixa uma porta aberta, o
que possibilita entender por que, apesar de tudo, o próprio indivíduo Bourdieu
se engajou com determinação nas lutas sociais da década de 90. Passado e
futuro articulam -se no habitus, chave da reprodução. Portanto, para quebrar a
reprodução, desconectar o futuro do passado e, assim, mudar a sociedade, é
necessário mudar o habitus. Sendo assim, a tomada de consciência sociológica é
a condição fundamental da mudança: pode mudar o mundo quem entende que suas
representações e práticas foram condicionadas socialmente e, ao compreender
isso, pode se livrar do condicionamento. A conscientização é condição
necessária da transformação social, como no pensamento de Paulo Freire (Freire,
1976, 1983). Todavia, enquanto, em Paulo Freire, a conscientização pode ser efeito
da formação, em Bourdieu ela não pode acontecer na escola, lugar onde as
classes dominantes exercem a sua violência simbólica e o seu “arbitrário
cultural”. A conscientização só pode ser produzida nas lutas sociais. Portanto,
a atividade é princípio de transformação, mas se trata da atividade
desenvolvida nas lutas sociais e não da atividade do professor e do aluno na
sala de aula. De fato, Bourdieu não se interessa pela atividade escolar, pelo
que acontece na sala de aula, mas pelas funções sociais da escola, pelo
processo de reprodução social através dela.
a análise
dos implícitos da atividade na sociologia de bourdieu e nos estudos de gênero Quando
Bourdieu presta atenção à atividade escolar, ele destaca os implícitos dessa
atividade, em detrimento, mais uma vez, do seu desenrolar. Bernstein já tinha
salientado a diferença entre código elaborado (explícito) e código restrito
(cheio de implícitos), e a existência, na escola, de um currículo oculto,
escondido (Bernstein, 1996). Caminhando pela mesma via, Bourdieu sustenta a
ideia de que os verdadeiros critérios de avaliação da atividade do aluno são,
na sua maior parte, implícitos. Implicitamente, a escola requer certa forma de
relação com a cultura e a linguagem e, nas suas avaliações do aluno, é essa
relação que a escola avalia. Em outras palavras, a es-cola não ensina o que
avalia. Quem já construiu essa relação na sua família pode conseguir êxito
escolar e quem não o fez, fracassa. Essa relação é socialmente construída,
mas, já que fica implícita e, portanto, escondida, ela é considerada um fato da
natureza: é “bom aluno” quem é naturalmente inteligente. O próprio professor,
como Bourdieu evidenciou, valoriza o aluno talentoso, que parece ter êxito sem
esforçar -se, e menospreza o aluno que trabalha muito para atender às
exigências da escola, considerado “escolar demais”. Em outras palavras, e por
mais paradoxal que seja, a própria escola não valoriza o trabalho escolar.
Ao se levar
em conta essas análises, chega -se a distinguir o que a atividade escolar
parece ser e o que ela é de verdade. Aparentemente, ela é uma atividade de
formação oferecida a todos os alunos. De fato, atrás dessa fachada funciona a
atividade real que permanece implícita: legitimar escolarmente e socialmente o
poder das classes dominantes. Portanto, nessa perspectiva, o trabalho
sociológico não visa a analisar o desenrolar da própria atividade, mas a
desvelar os seus implícitos.
Assim,
entende -se por que, por muitos anos, se falou da escola e da desigualdade
social frente à escola sem analisar detalhadamente o que acontecia nas salas
de aula. O diagnóstico estava pronto antes de ser aberta a porta da sala: nela
ocorria um vasto processo de ilusão e engano, cujos pormenores não importavam.
A esse respeito, muito significativas são algumas linhas, no fim do livro A
Reprodução (1992), em que Bourdieu e Passeron avançam a hipótese de uma
pedagogia racional, que explicitaria os implícitos da escola e, ao fazê -lo,
possibilitaria o êxito dos jovens oriundos das classes dominadas. Descartam de
imediato essa hipótese: por que as classes dominantes iriam implementar na
escola uma pedagogia que levaria todos ao sucesso, enquanto a pedagogia atual
beneficia os seus filhos? Não resta dúvida alguma: nesse modelo sociológico, a
democratização da escola depende das lutas sociais que são desenvolvidas fora
da escola e não de uma transformação interna das práticas escolares.
Hoje, uma
grande parte dos pesquisadores que investigam a desigualdade social frente à
escola interessa-se pela atividade escolar em si. Desvelar os implícitos dessa
atividade permanece a abordagem dominante em outra área: os estudos de gênero.
Para evidenciar os valores masculinos ocultos que permeiam o universo escolar,
pesquisam -se os livros didáticos, os comportamentos dos professores e das
professoras, as práticas de avaliação, etc. Esses implícitos foram
identificados por múltiplas pesquisas e são inegáveis. Contudo, os estudos de
gênero negligenciam, e geralmente silenciam, um fato muito importante: em
vários países, foi comprovado que as moças são mais bem -sucedidas na escola
que os rapazes. Como isso pode acontecer em uma escola cujos valores implícitos
são masculinos?
Muitas
vezes, os estudos de gênero descartam esta questão com o seguinte argumento: as
moças obtêm mais sucesso na escola, mas elas não conseguem valorizar os seus
diplomas no mercado de trabalho. Esse raciocínio ressalta que as mulheres
sempre são vítimas, inclusive quando parecem levar vantagem sobre os homens,
mas não responde à questão. A escola não tem responsabilidade pelo que
acontece no mercado de trabalho e o paradoxo permanece: em uma escola permeada
por valores masculinos, são as mulheres que obtêm mais sucesso. Ao não se levar
em conta esse fato, desliza -se da pesquisa para o discurso de vitimização.
Adriana
Marrero, socióloga uruguaia, trabalha essa questão (Marrero, 2007). Ela explica
que, além dos valores implícitos masculinos, há também na escola um discurso
explícito, a ser levado em consideração. O que diz esse discurso explícito?
Assevera que o êxito escolar não depende do sexo ou da categoria social e que
qualquer um pode ser bem -sucedido na escola, desde que estude. Chegou a hora
de ouvir também o discurso explícito da escola. Decerto, ele não anula os valores
masculinos implícitos, mas ele produz efeitos de mobilização. Ao ouvir que ela
pode ser tão boa quanto os rapazes, a moça pode mobilizar -se na escola, pois
sente -se incitada a estudar. Essa mobilização é mobilização de quê? É
mobilização da atividade da aluna.
Afinal de
contas, por mais masculinos que sejam os valores da escola, não há muitos
lugares onde uma moça ouve este discurso: que ela pode superar os homens. A
escola é um dos poucos lugares que afirma explicitamente a igualdade entre os
sexos e que abre espaço para as mulheres superarem os homens — o que, de fato,
elas fazem. Decerto, isso é parcialmente um engano, uma ilusão, já que os
valores masculinos atravessam a escola. Sabe -se, porém, que tal ilusão tem uma
realidade social. A Sociologia chama de self -fulfilling prophecy (profecia
autorrealizável) esse fenômeno em que uma convição objetivamente errada acaba
por gerar o que foi previsto. Pode -se considerar o sucesso escolar das moças
e, também, o de alunos oriundos de classes populares como uma self -fulfilling
prophecy: ao afirmar que qualquer um pode ser bem -sucedido, a escola cria as
condições para que qualquer um o seja, embora isso exija um investimento
pessoal maior quando se trata das moças ou dos jovens das camadas populares.
A pesquisa
sobre a escola deve levar em conta, ao mesmo tempo, os seus valores implícitos
e os seus princípios explícitos. Ao prestar atenção a estes, encontra -se a
questão da mobilização dos alunos em seus estudos e, portanto, aquela da
atividade do aluno. Faz -se necessário, logo, um modelo de análise outro que
não o da Sociologia da Reprodução — sem, por isso, esquecer as desigualdades
social e de gênero.
A Sociologia
da Educação conseguiu ultrapassar o discurso da reprodução e da vitimização
quando prestou atenção à resistência dos alunos. Foi importante o livro de Paul
Willis, Aprendendo a ser Trabalhador (1991), mostrando que os jovens ingleses
da classe operária desconsideram a escola e, assim, contribuem para a
reprodução social através dela. Com efeito, essa resistência dos alunos às
normas da escola atesta que o dominado não é um objeto sofrendo de forma
passiva os processos de dominação. Quem melhor desenvolveu essa idéia foi
Michel de Certeau, em particular no seu livro Artes de fazer, primeiro tomo de
Invenção do cotidiano (1996). Evidenciou que o dominado tenta subverter a ordem
dominante para tirar dela algum proveito. Por exemplo, ele sabe que, para
receber assistência social, deve ter aparência de pobre sério, “bom pobre”.
Quem é dominado não pode desenvolver estratégias, por lhe faltarem o controle
do seu tempo e o domínio dos meios que lhe permitam atingir os seus fins.
Entretanto, nem por isso fica passivo. Ele faz uso de táticas para aproveitar
-se das situações que se apresentam e, assim, “inventa o cotidiano”, através de
uma permanente “bricolagem” social. Resumidamente, por mais dominado que seja,
um ser humano permanece um sujeito, ele atua e a sua atividade surte efeitos.
Essa é a
ruptura fundamental com a Sociologia da reprodução e da vitimização, e ela traz
para a frente do palco a questão da atividade. Vale destacar que tal abordagem
se inscreve perfeitamente na tradição marxista: o marxismo é uma teoria da luta
de classes, isto é, da atividade no conflito; não é uma teoria da reprodução
das posições sociais, ou, pelo menos, não é apenas isso. O marxismo é uma
teoria da práxis: ao transformar o mundo, o homem se transforma a si mesmo. O
ser humano ocupa uma posição no mundo, mas, a partir dessa posição, ele tem
uma atividade sobre o mundo. A atividade do aluno na sala de aula e fora dela
é tão importante quanto a sua categoria social ou sexual para se entender o que
está acontecendo na escola.
Logo, faz
-se necessário explicitar o que é uma atividade. Alexis Leontiev, colaborador
de Vygotsky, explica que uma atividade é uma série de ações e operações, com um
motivo e um objetivo (Leontiev, 1984). Por que faço isso? É o motivo. Para que
o faço? É o objetivo. Como atingir esse objetivo? Realizando ações, que
requerem operações. Uma atividade tem uma eficácia e um senti-do. Ela é eficaz
quando as operações permitem chegar ao resultado visado. O sentido da
atividade, segundo Leontiev, depende da relação entre motivo e objetivo.
Quando ambos coincidem, é mesmo uma atividade; senão, é apenas uma ação.
Usemos um exemplo proposto pelo próprio Leontiev. Se eu estiver lendo um livro
para preparar um exame, é uma ação, não é uma atividade: o motivo (o exame) não
coincide com o objetivo da ação (conhecer o conteúdo do livro). Se eu estiver
lendo o livro por interesse pelo conteúdo (motivo), trata -se de uma
atividade. Essa distinção entre ação e atividade é interessante por destacar as
eventuais defasagens entre os resultados de uma ação e seu motivo real.
Para
analisar uma atividade, incluída a do aluno, é preciso interessar-se pelo
sentido da atividade e pela sua eficácia.
Por que e
para que um aluno estuda? Em minha opinião, essa é a questão básica, inclusive
quando se pesquisa a questão das desigualdades sociais ou de gênero frente à
escola. Afinal de contas, quando um aluno fracassa, não é diretamente por
causa da sua condição social, embora essa possa influir também na avaliação do
professor; é, antes de tudo, porque ele não estudou o suficiente. Por que não
estudou o suficiente? Esta questão remete ao sentido que o aluno atribui ao
estudo. Para se entender esse sentido, é preciso levar em conta a posição
social e o sexo do aluno, que interferem bastante na sua relação com o saber e
com a escola. Minhas pesquisas sobre essa relação focalizam três questões,
ligadas. Para o aluno, em especial para um aluno de meio popular, qual é o
sentido de ir à escola? Para ele, qual é o sentido de estudar, ou de se recusar
a estudar? Qual é o sentido da aprender e de compreender, quer na escola, quer
fora da escola? (Charlot, 1999,2000,2005a; Charlot et al., 1992).
Trata-se,
fundamentalmente, de investigar a mobilização do aluno no estudo. Evito falar
de motivação, prefiro usar a palavra mobilização. Com efeito, “motivar os
alunos” consiste, muitas vezes, em inventar um truque para que eles estudem
assuntos que não lhes interessam. Pres-tar atenção à mobilização dos alunos
leva a interrogar-se sobre o motor interno do estudo, ou seja, sobre o que faz
com que eles invistam no estudo. Motiva-se alguém de fora, mobiliza -se a si
mesmo de dentro. Ao levantar a questão da mobilização, encontra-se a do desejo
e, logo, a do inconsciente e, de forma mais geral, a teoria psicanalítica
— que
Vygostky e Leontiev descartavam (Charlot, 2005b).
Encontra -se
a questão do sentido por outro caminho, diretamente ligado à experiência
docente. Ninguém aprende sem desenvolver uma atividade intelectual; ou seja:
quem não estuda, não aprende. Logo, vem a questão do “motivo” desse
investimento na atividade, para utilizar a palavra de Leontiev. Qual o sentido
dessa atividade para o aluno? Quando não existe nenhum sentido, não há
atividade alguma: ninguém faz algo sem nenhum motivo. Mas a situação mais
frequente na escola é aquela em que o aluno age por um motivo não relacionado
com o próprio saber. No caso extremo, encontra -se o adolescente francês que,
um dia, disse: “na escola, gosto de tudo, fora as aulas e os professores”. No
caso comum, acham -se os alunos que estudam para tirar uma boa nota ou ganhar o
celular prometido pelo pai. No caso ideal, o aluno estuda porque se interessa
pelo conteúdo estudado. Está claro que a eficácia do estudo não é igual em
todos esses casos. Leontiev diria que só o último trata de atividade, enquanto
os demais são ações nas quais existe um descompasso entre motivo e objetivo.
Aprender
requer uma atividade intelectual. Só se engaja numa atividade quem lhe confere
um sentido. Quando esse sentido é afastado do resultado visado pela ação de
estudar, o engajamento nesta é frágil. Ao contrário, quando motivo e objetivo
da atividade coincidem, esta faz muito sentido e sente -se prazer ao
desenvolvê -la e, ainda mais, ao atingir o objetivo. Atividade, sentido,
prazer: esses são os termos da equação pedagógica a ser resolvida.
A questão da
desigualdade social e de gênero frente à escola não é perdida de vista. Ela é
integrada em uma perspectiva mais ampla do que a da reprodução, da vitimização,
da ação unilateral dos dominantes: qual é o sentido da escola, da atividade
escolar, do saber, do aprender quando se pertence a uma classe social ou a um
sexo dominado? Esse sentido é construído fora da escola, claro está, mas
decorre também, por muito, do que está acontecendo dentro da escola. Os alunos
não são iguais frente à escola: nesse ponto, a Sociologia da reprodução está
certa e os seus achados permanecem importantes. Mas ao levar em consideração a
questão da atividade escolar, que ela negligenciou, torna -se possível
descartar o determinismo sociológico e, assim, entender como é possível que
alunos dos meios populares sejam bem -sucedidos na escola, apesar de todas as
probabilidades contrárias, e como é possível que as moças tenham mais êxito do
que os rapazes em uma escola permeada por valores masculinos.
Contudo,
para analisar a atividade do aluno, não basta levantar a questão do seu
sentido; é preciso, ainda, prestar atenção à sua eficácia. O que vamos fazer
adiante.
A ATIVIDADE ESCOLAR, NA PERSPECTIVA DA PRÓPRIA
ESCOLA E NA DOS ALUNOS
Fracassa o
aluno que não estuda, mas fracassa também o aluno que desenvolve na escola uma
atividade outra que não aquela que caracteriza a escola.
qual
é a especificidade da atividade escolar?
Responder
detalhadamente a essa questão requer análises precisas e longas, que não podem
ser desenvolvidas neste artigo, de tamanho limitado. Portanto, apresentarei
diretamente algumas conclusões, consideradas como enunciados a serem discutidos
(Charlot, 1999, 2000; Charlot et al., 1992).
A escola é
um lugar onde o mundo é tratado como objeto e não como ambiente, lugar de
vivência.
Às vezes,
esse objeto de pensamento tem um referente fora da escola, no meio de vida do
aluno. Mas nesse caso a relação com o objeto de pensamento deve ser diferente
da relação com o referente. A Lisboa de que fala
o professor
de Geografia não deve ser confundida com a Lisboa em que o aluno vive. De certo
modo, trata -se da mesma cidade, mas a relação com ela não é similar nos dois
casos: esta é lugar de vivência, aquela é objeto de pensamento. Quando o aluno
não consegue fazer a diferença entre ambas e se relaciona com aquela como se
fosse esta, ele tem problemas na escola. Por exemplo, o professor pergunta
quais são as funções da cidade de Lisboa, o que requer pensar a cidade no seu
papel de capital, e o aluno responde narrando como ele, seus pais e seus amigos
andam pela cidade.
Muitas
vezes, o objeto de pensamento da escola não tem referente no meio de vida do
aluno. Pertence a um universo específico, construído pela Ciência e pela
escola. As operações básicas da Aritmética têm alguns referentes nas práticas
sociais fora da escola, onde os alunos contam, adicionam, multiplicam, mas
esses referentes passam a ser raros quando o aluno avança na Álgebra: quem, na
sua vida, resolve equações do segundo grau? A noção de peso tem um referente no
mundo cotidiano, a de átomo não tem. Controlar a relação entre o objeto de
pensamento e os seus referentes no meio de vida, e introduzir o aluno em
universos intelectuais constituídos por objetos cujo sentido não decorre de uma
relação com o mundo vivenciado é, sob duas formas correlatas, o problema
central da pedagogia escolar.
Sendo assim,
temos de repensar a questão da ligação entre o mundo familiar do aluno e o que
se ensina na escola. Muitas vezes, tenta -se resolver o problema do fracasso
escolar ligando tudo ao mundo cotidiano do aluno. Essa ligação, porém,
constitui, ao mesmo tempo, um apoio e um obstáculo. É um apoio porque ela dá
sentido ao que a escola ensina. É obstáculo quando ela oculta o sentido
específico da atividade escolar. Assim, Vergnaud mostrou como a representação
familiar da subtração obsta à sua compreensão matemática (Vergnaud, 2005). O
José sai de casa com trinta euros e perde dez euros: com quantos euros volta a
casa? O aluno resolve esse problema sem dificuldade porque os significados de
“perder” e de “subtrair” convergem. Agora, o José sai de casa com trinta euros,
ganha dinheiro e volta a casa com cinquenta euros: quanto ele ganhou? Para
resolver o problema, o aluno deve fazer uma subtração, o que, para ele, não é
lógico, já que o José ganhou dinheiro. Poder -se -ia dar muitos exemplos em que
a referência ao mundo cotidiano cria uma dificuldade para o aluno (Silva, 2004,
2009). Poder -se -ia, ainda, evocar a noção de obstáculo epistemológico em
Bachelard e as ideias de Vygostsky, sustentando que existe uma diferença de
natureza entre saber comum e saber científico ou escolar (Bachelard, 1996;
Vygotsky, 1987). O que importa é que o ensino tenha sentido, não é que esteja
ligado ao mundo familiar do aluno; esta opção representa apenas uma solução
possível, em certos casos, e pode ser perigosa ou impossível em outros.
Para relacionar-se
ao mundo como objeto de pensamento, são fundamentais os processos de
distanciação-obje tivação e de sistematização. A distanciação pos si bilita
ao aluno sair do mundo subjetivo das emoções, dos sentimentos, da experiência
vivenciada e pôr o mundo como objeto a ser pensado. Distanciação e objetivação
são indissociáveis e ocorrem em um só processo: o Eu constitui -se num Eu
epistêmico, distinto do Eu empírico, no processo pelo qual ele coloca o mundo
como objeto de pensamento. Esse processo de distanciação -objetivação só é
possível graças à linguagem; somente pela linguagem podem existir objetos de
pensamento e um sujeito racional para pensá -los (Vygotsky, 1987). Se na
escola impera a linguagem, é porque esta possibilita construir objetos de
pensamentos diferentes dos objetos de vivência, o que é a especificidade da
escola.
A
sistematização é um processo complementar da distanciação -objetivação. É
possível constituir objetos de pensamento sem ligá -los em sistema, mas este
sempre é o horizonte do pensamento, visto que um conceito é definido pelo
conjunto de relações que ele mantém com outros conceitos e não por uma ligação
direta com um referente. A sistematização é que permite construir disciplinas
(Matemática, Física, História, etc.) e não é por acaso que o projeto
interdisciplinar sempre esbarra no problema da sistematização. Quer em
Vygotsky, quer em Piaget, a questão da sistematização é fundamental. Para
Vygotsky, há três diferenças entre saber cotidiano e saber científico: este é
consciente, voluntário e sistematizado, diferentemente daquele (Vygotsky,
1987). Para Piaget, chega -se ao fim da construção das operações intelectuais
quando se pode pensar sistemas, isto é, quando o real é a realização de uma
possibilidade do sistema (Inhelder & Piaget, 1976; Piaget, 2008).
Distanciação,
objetivação, sistematização, ou seja, indissociavelmente, constituição do Eu
como Eu epistêmico e do mundo como objeto de pensamento, definem a
especificidade da atividade escolar. Essa definição vale para as disciplinas
fundamentadas em enunciados (Matemática, História, Português…), mas, também,
para disciplinas que se ocupam do corpo ou das Artes. Há uma diferença entre a
peleja na rua, com pontapés e tapas, e a luta desportiva na escola. A luta tem
regras, normas, que podem ser faladas, explicitadas, enquanto a peleja é uma
vivência sem palavras (senão palavrões). Da mesma forma, há uma diferença
entre o desenho bonitinho do aluno da escola de educação infantil e um quadro
de Picasso: diferença de técnica, de construção, de incorporação ou recusa
ostensiva de normas.
Existe uma
especifi cidade da atividade escolar. Ela requer determinadas relações com o
mundo, com os outros, consigo mesmo, com a linguagem, com o tempo, que defi
nem certa relação com o saber e com a escola (Charlot, 2000, 2005a). Essas
relações não são socialmente neutras, uma vez que começam a ser construídas na
classe média, que valoriza a linguagem, enquanto a relação com o mundo das
classes populares é outra. Portanto, não é surpreendente que os filhos das
classes populares tenham mais difi culdades na escola que os fi lhos da classe
média.
Entretanto,
essa atividade escolar específica não é um “arbitrário cultural”, um simples
reflexo das normas das classes dominantes, como o sustentam Bourdieu e
Passeron (1992). Ela tem um valor de formação, um valor antropológico, por ser
uma forma específica e muito elaborada de se relacionar com o mundo. É preciso
evitar dois erros. Primeiro erro: considerar essa atividade como simples imposição
da classe dominante, esquecendo -se do seu valor de formação. Segundo erro,
simétrico: considerar que só essa atividade tem um valor. Há outras for-mas de
aprender, outras formas valiosas de se relacionar com o mundo, com os outros,
consigo mesmo, outras atividades que vale a pena serem desenvolvidas e
aperfeiçoadas em uma vida humana. A esse respeito, deveríamos refletir sobre o
fato de que, hoje em dia, a escola invadiu a vida dos jovens e tende a
impossibilitar outras formas de se relacionar com o mundo.
será
que a atividade escolar pode ser considerada um TRABALHO?
A resposta a
essa questão depende, obviamente, da forma como se define o que é um
“trabalho”.
De três
pontos de vista a atividade escolar pode ser considerada um trabalho. Exige esforço
e gasta energia. Funciona sob condições de tempo, espaço, material e é
avaliada. Por fim, desenrola -se num quadro social. Portanto, ela apresenta
certas características do trabalho. Aliás, pelo menos na França, as crianças
novas, em especial na educação infantil, fazem questão de dizer que, na
escola, trabalham. Ter uma atividade social e séria fora de casa, como os pais,
atesta que já se é “grande”.
No entanto,
existem diferenças fundamentais entre a atividade do aluno e o trabalho fora da
escola. O filósofo Alain ressalta o que distingue o aluno e o aprendiz. Este
não pode desperdiçar a matéria, nem perder tempo, porque matéria e tempo são
dinheiro. Portanto, ele não pode tentar e, logo, não está em boas condições
para pensar. Pelo contrário, o aluno pode ensaiar, tentar, fracassar, recomeçar
e, ao fazê -lo, não perde dinheiro: ganha formação (Alain, 1969).
Do ponto de
vista marxista, também, deve -se distinguir trabalho e atividade escolar. Com
efeito, esta não gera mais valia, pelo menos imediata e diretamente; ela produz
formação. Por isso, o aluno não recebe salário; ganha conhecimento,
competência, notas, diploma.
Afinal de
contas, a atividade escolar é ou não é um trabalho? Poder -se -ia dizer que os
alunos “trabalham” (entre aspas), fazendo uma coisa específica que se chama
estudar. Entretanto, os próprios alunos têm cada vez me-nos consciência da
especificidade da atividade escolar. Como vamos ver, eles tendem a considerá
-la como um trabalho imposto aos jovens pelos adultos.
quando a
atividade escolar se degrada em trabalho alienado
Hoje em dia,
cada vez mais se esquece da escola como lugar de saber e se pensa nela como
caminho para o emprego. Encontra -se esta relação com o saber e com a escola na
fala dos pais, nos discursos dos políticos, nos artigos dos jornais, no
marketing das escolas particulares e, portanto, não é de admirar que ela tenha
se tornado dominante, também, entre os alunos.
As minhas
pesquisas sobre a relação com o saber evidenciaram que muitos alunos vão à
escola para passar de ano, receber um diploma e ter um bom trabalho mais tarde.
Essa posição é realista, claro está, mas o problema é que cada vez mais alunos
frequentem a escola apenas para isso (e, claro, para verem os amigos). A escola
como lugar de saber e de formação está sendo ocultada pela escola como promessa
de inserção socioprofissional. Já ouvi jovens perguntando: “os professores
recebem um salário, por que é que nós não recebemos um salário?”. Na lógica
deles, essa pergunta é legítima: a escola é o início da carreira profissional
e, portanto, o aluno já deveria receber um pequeno salário.
Além disso,
para muitos alunos, no Brasil como na França, quem é ativo no ato de ensino
-aprendizagem não é o aluno, é o professor. O que significa estudar, para crianças
brasileiras da quarta série (quinto ano)? É fazer
o que a
professora diz que se deve fazer. É escutá -la, sem bagunçar, brincar, brigar
(Ireland et al., 2007). Quem vai à escola e presta atenção ao que diz a
professora cumpriu o seu dever de aluno. O que vai acontecer a seguir depende
da professora. Se ela explicar bem, o aluno vai saber e tirar uma boa nota.
Conclusão lógica: a nota ruim é injusta quando o aluno escutou a professora. Se
ele não entendeu nada, é porque a professora não explicou bem e é ela quem
deveria tirar a nota ruim.
Nessa
lógica, é a ideia de atividade intelectual do aluno que desaparece. A escola
torna -se um lugar onde se devem cumprir tarefas. Por quê? Porque a professora
mandou e quem não obedece não vai passar de ano e não conseguirá um bom emprego
mais tarde. Para Leontiev, como vimos, só se pode falar de atividade quando o
motivo e o objetivo coincidem: estuda -se para apropriar -se de um
conhecimento. Na lógica que está se tornando dominante, estuda -se (quando se
estuda…) para ter boas notas, passar de ano, ser aprovado no vestibular, ter um
bom emprego: motivo e objetivo discordam. Portanto, não existe mais atividade.
Sendo assim, qual é a significação do que o aluno faz na escola? Leontiev
responderia que se trata de ações. Podemos dizer, também, que é um trabalho: um
trabalho alienado. Os alunos devem gastar energia para cumprir normas e ganhar
boas notas, mas foram desapropriados e se desapropriam a si mesmos do sentido
do que fazem. Quando a atividade escolar perde a sua especificidade, apenas
sobra um trabalho alienado, quer se trate do aluno ou do professor. E esse
trabalho, temos de admiti -lo, é chato, muito aborrecido.
Devemos
refletir nisso. Até que ponto as nossas es-colas induzem os alunos a ter uma
atividade intelectual, os introduzem em universais novos, constroem outras
formas de se relacionar com o mundo? Até que ponto, ao contrário, privilegiam
tarefas estandardizadas e obediência às normas? Eis um elemento de resposta:
quando um aluno chega atrasado à escola, deve ir de imediato ao escritório do
coordenador para justificar -se e, assim, perde mais um pouco da aula. Dar
satisfação à instituição é mais importante do que aprender…
Notas
1. Em
francês utiliza -se um mesmo vocábulo para as palavras aprender e ensinar:
apprendre.
Referências
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proferida na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade
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Bernard
Charlot
bernard.charlot@terra.com.br
Professor -Visitante da Universidade Federal de Sergipe, Brasil (NPGED e
NPGECIMA /UFS), membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e
Contemporaneidade (EDUCON). Professor emérito da Universidade de Paris 8.
Professor Afiliado da Universidade do Porto.
Charlot,
Bernard (2009). O trabalho docente, a análise da actividade e o papel dos
sujeitos. Texto da conferência proferida na Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, a 12 de Fevereiro de 2009.
Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 10, pp. 89-96. Consultado em [mês,
ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt
Fonte: sísifo
/ revista de ciências da educação · n.º 10 · set /dez 09 issn 1646 -4990
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